Invasão

E então colocamos aquele gelo na boca

Cada um com a sua memória louca

Aprendíamos mais um mistério

Por alguém que alcançou o magistério

Do gelo, saíram grandes aneis

Especial para cada um dos fieis

Aprendizes que lotavam o lugar

Ansiosos para estudar e praticar

Igual ao anel ao meu lado,

Meu anel era de muitos cavalos.

Porém, galopavam em contrária direção,

Então fiz ao Mestre minha indagação:

O que aquilo me dizia?

Os desenhos abaixo eram linhas...

O Mestre me falou sobre os cavalos...

Pouco tempo de vida me foi dado.

Perguntei, então, a ele, em desespero:

'Pouco tempo para cumprir o que devo?'

'Ou pouco tempo em relação aos companheiros?'

Ele me chamou para longe e contou-me um segredo:

A maioria dos alunos eram analfabetos,

Não diferenciariam o mal do certo.

Mas não chegou a me dar explicação,

Pois estávamos na iminência de uma invasão.

E crianças ou pequenos guerreiros surgiram,

Com arcos e flechas que em sangue ardiam.

Meu Mestre partiu a socorrer nossa gente...

E eu corria por entre o mato fervente,

Tentando escapar às flechas da morte,

Que, em centenas, matavam as sortes...

Nossa gente morria à nossa frente,

E o tempo todo me senti tão impotente!

Crianças e guerreiros a cavalo,

Desciam os morros no embalo...

Para nos encontrar e nos matar,

Tirar-nos toda a vida deste lugar.

Todo o conhecimento adquirido...

Pelo horror da morte e do fogo consumido.

Todos os laços e amor que entre nós nutrimos...

Se esvaem pelo nosso sangue, enquanto nós mesmos partimos.

À tal invasão bárbara desconhecemos o motivo...

Mas tanta gente não pode ter em vão morrido.

Talvez tudo seja apenas uma mera ilusão...

Penso nisto enquanto adormeço na escuridão.

Miram em mim e vejo uma chuva de flechas,

Corro por entre a mata e olho para dentro das janelas...

Chamas altas e pessoas presas, desesperadas...

Portas cerradas... pessoas erradas... vidas enterradas...

Almas amadas

Cruelmente queimadas

Vidas ceifadas

Promessas negadas

Não há ninguém a quem pedir socorro.

Vejo no rosto de todos o temor e choro.

Se ao menos eu fosse valente e forte,

Não abandonaria meus companheiros à própria sorte.

Em pouco tempo, nossos poucos cavaleiros

Vêm nos proteger, ligeiros

Quase sem esperanças, vejo tudo acontecer...

Mas não parece o bastante para nos defender.

Muito barulho, gritos, sangue e odor

De sofrimento, desespero, tortura e rancor...

Desde que isso tudo começou

A morte muitas vidas já ceifou.

E não há como desfazer... tudo está se acabando.

Vidas morrendo e corpos clamando...

Não há volta para o que antes era...

Tenho medo do que agora me espera.

Alívio, tristeza, descanso, sono eterno...

Só este momento importa, em meio ao inferno.

Céu, distante, longe de toda a selvageria...

Para lá me vou, mesmo sabendo que não merecia?

Isto seria de uma tal e grande heresia...

Que tranquilidade nenhuma sentiria.

Morte! Apenas me leve para onde for...

Porque quero simplesmente que leve minha dor.