até quando?

disperso o meu verso

na neve, no gelo, no vento

e nos olhos da noite

desconsoláveis do sabor da vida

disperso o meu verso

nas árvores despidas de verde

secas, queimadas pela geada

e relâmpagos errantes

disperso o meu verso

nos olhos das crianças

nas primaveras esquecidas

e no luto sombrio do mar de inverno

disperso o meu verso

nos meus irmãos sem abrigo

exibindo os velhos e sujos cobertores

num leito de cimento ou pedra

disperso o meu verso

no latido crispado de cães vadios

fieis amigos mendigos sem história

sobre todos eles

vence o frio do desalento

do desespero e da miséria

e sobre todos nós

vai vencendo o silêncio

o consentimento cruel

do amor sepultado nas catacumbas

das nossas consciências

só ressuscitando de quando em vez

do frio da indiferença

e a neve cai

cai a neve. cai branca imaculada

como um verso disperso da Natureza

lançando sílabas de silêncio celeste vestidas de glória

mostrando-nos a mesquinhez

do frio do nosso egoísmo infundado

do inverno, para além da sua estação.

quatro folhas
Enviado por quatro folhas em 17/08/2007
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