INFERNO DE DANTE

INFERNO DE DANTE

JUCKLIN CELESTINO

Qual Dante, nos estertores do cataclismo ,

A mergulhar no abismo,

Desço ao porão infecto, profundo,

Que se assemelha

A um monstro catatônico ,

Nos confins do mundo,

Onde as estrelas não refletem o brilho!...

E é sombrio e pavoroso o trilho

Que em sangue se avermelha

Num concerto insano, Estertônico!

II

Ali, em macabro cortejo,

Pasmo de espanto vejo –

Horrenda criaturas

De tessituras

Sádicas, perversas – cujas bocarras

Regam o sangue maldito

Do ser das brenhas

Naquele medonho lugar entranhadas,

Nas mais crudelíssimas sendas

Dos bacanais de torturas

E sangue a espargir,

Presas nas diabólicas garras,

À própria sorte abandonadas,

Cujas consciências estertoradas

Apontam-lhes dedo em riste –

A satânica morada,

Da qual não podem fugir!

III

Desço uma vez mais

Ao nível aprofundado da geeana!

Senhor, que horror!

Que sonho insano!

Que tormento, Deus meu!...

“Que quadro de amarguras!”

Que vejo ali?

Que criaturas são aquelas?

Vistas jamais,

Por olho humano?

Que pesadelo é este que se me afigura?!

“É um sonho estarrecedor!...

Que quadro inaudito!...

Que concerto macabro, maldito,

Ali se consocia:

Lama, mar de sangue, lodo,

Organismos pútridos,

Pus, carnes putrefatas, fogo,

labaredas descomunais a crepitar,

Ranger de dentes, lamentos dolorosos,

Copiosos choros de amargura,

Criaturas que gemem,

Que de dores enlouquecem;

Outras que se apetecem

No deleite, no sadismo de maltratar;

Outras mais, envoltas em misérias,

No turbilhão de suas consciências parvas,

Quais lavras

De micróbios, fungos e bactérias,

Pejadas de toda sorte de crimes,

Vícios e mazelas

Com se fora Prometeu,

Presas cativas

À corrente do crime capital

Por elas praticado,

Cuja maldade nata

O ritmo cadencia!...

E num lago de sangue, pecado,

Dores e torturas,

Ligados à sanha diabólica inata,

Em razão de terem abandonado

Do Pai Eterno –

Os passos –

Para caírem no laço

Do chefe da profundeza do inferno!

IV

Que delírio, que mau sonho,

Que banquete lúgubre, medonho,

Estarrecedor ali campeia,

Onde tudo se entrelaça

Na mais atroz maldade –

Demônios, monstros,

E, confinada ali, uma mísera raça

No fogo miserando,

Sofrendo suplícios

Inauditos na geeana --

Presa comum

De “uma só cadeia”!...

E o soberano das profundezas

Comanda “ as malvadezas”!...

E manda o malho,

E faz mais e mais em retalho

A horda de condenados que ali habita!

Que importa um aí, um lamúrio,

Uma voz que de tormento grita,

Um clamor sequer de agonia,

Se não encontra eco algum

De piedade,

À sua sina cruel de todo dia?!