Sobremundo

O espesso ar roxo

fulmina o espaço

entre tudo e a porta

do banheiro pintado

em cinza insosso.

A pena entrecorta

o olhar refletido;

não há ontem

sem hoje,

não há amanhã

sem sobreaviso.

O palpável, roxo, ar,

está entrecontido

no olhar de quem

está sem nome,

e é consumido

por entre o sangue,

no cinza escorrido.

Nada visível

é realmente

visível.

Há o horrível

em uma mente

sem alívio.

Nessa mente

reside o roxo

espesso,

o denso

sobremundo;

refletido no olho

de quem não viu

pelo espelho;

no sangue cinza

da parede vermelha;

no teto em colapso;

no vaso que ruiu.

Não há sobrevida

entre a ausência

desta falsa pia;

da suja banheira;

do higiênico roído;

desta falsa vida.

Meu espesso sangue

entre o roxo, o cinza

e o falso espaço pútrido:

Entre o nada e o agora

do denso sobremundo.