Surreal real
Ontem uma florzinha olhou pra mim!
Uma florzinha triste e cabisbaixa,
pendente sob o laço duma faixa,
na qual se lia, escrito com nanquim:
Infelizmente tudo chega ao fim!
Descanse em paz, amigo, onde fores.
E lá, no meio doutras tantas flores,
somente uma florzinha olhou pra mim.
Ontem fui ao enterro de um cão.
Um cãozinho sem raça definida,
morto ao atravessar a avenida
por alguém que seguia em contra-mão.
Quão subserviente é nossa vida
a algo que nos é superior!
Não fosse o olhar daquela flor
hoje eu seria um verso sem guarida.
Deus abençoe a triste margarida,
que fez, deste poeta, um tradutor.
Ontem uma florzinha olhou pra mim!
Uma florzinha triste e cabisbaixa,
pendente sob o laço duma faixa,
na qual se lia, escrito com nanquim:
Infelizmente tudo chega ao fim!
Descanse em paz, amigo, onde fores.
E lá, no meio doutras tantas flores,
somente uma florzinha olhou pra mim.
Ontem fui ao enterro de um cão.
Um cãozinho sem raça definida,
morto ao atravessar a avenida
por alguém que seguia em contra-mão.
Quão subserviente é nossa vida
a algo que nos é superior!
Não fosse o olhar daquela flor
hoje eu seria um verso sem guarida.
Deus abençoe a triste margarida,
que fez, deste poeta, um tradutor.