Desnexo

Um sabiá cantou no meu jardim,
e nem jardim eu tinha, francamente.
E cantou, e cantou... na minha frente
como cantasse apenas para mim.

E cantou, e cantou... e, de repente,
havia um jardim dentro de casa!
Um beija-flor insone bateu asa,
carregando, no bico, uma semente.

Dia seguinte, o mesmo sabiá
pôs-se a cantar um canto diferente.
E cantou, e cantou... na minha frente
como se já não fosse um sabiá.

E o beija-flor voou na minha mente
e largou a semente frente a mim.
E minha casa enfim era um jardim
que não tive e não tenho, francamente.

Um outro sabiá, um outro dia,
cantou, cantou, cantou... longe de mim.
Foi quando eu descobri, até que enfim,
a criar sabiás à revelia

e, com pena, apenar a poesia,
que me fez jardineiro sem jardim.
Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 26/08/2017
Reeditado em 27/08/2017
Código do texto: T6095679
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