*Rei de Copas e a Depressão
Que lindo céu estrelado
Não sei se estou dormindo ou acordado
E quando durmo pareço que fico mais cansando.
Saudade do tempo em que eu tinha coragem
De pegar o ônibus lotado e ir trabalhar,
Parece preguiça ou malandragem
Só que a casa não para de me sugar.
Sentimento de ser caçado
Sem ter para onde correr,
Minha boca quer falar,
Mas estou amordaçado
Mal consigo comer.
Drogas que me consomem
Faz-me perder a vontade de viver,
Que merda sou de homem?
Nada consigo fazer.
Olhei tanto para o abismo,
Tornei-me escuridão,
Fui dominado pelo pessimismo
Criei meu próprio dragão.
Que cuspiu gelo
No fogo do coração,
É desespero
Morar no olho cego do furacão.
As paredes desse quarto estão em movimento,
Estou pregado na cama com maus pensamentos,
Maldito nariz que inala sofrimento
Parece não ter fim esse tormento.
Palavras que entram nos ouvidos
São zunidos
Que me deixa constrangido
Por ser tão fraco e falho.
Carta do baralho
Que será usada uma vez,
Rei de Copas que seguia as próprias leis
Se tornou inútil e fútil com seus pensamentos de burguês.
Deram-me banho de óleo ungido,
Tomei um monte de comprimidos,
Vieram todos os amigos
Prefiro a terra dos esquecidos,
Não tive forças, tentei suicídio.
No fundo do abismo,
Abismado fiquei
Morrer é egoísmo
Todo homem deveria ser rei
Minha princesa chorava
A rainha gritava:
Rei de copas
Volta para mim,
Sua vida não precisa ter este fim.
Se não consegue amar a ti,
Olhe para quem lhe ama,
A princesa lhe chama
Enquanto reclama a morte
Pedimos que seja forte.
Endireite seus caminhos tortos
Lembre-se dos nossos votos,
Não faça a morte nos separar
Faça dos meus braços abrigo e lar.
Rei de copas, não deixe a princesa chorar.
Rei de copas, o mundo que vê
Não depende dos olhos que tem
Rei de copas, não jogue fora o que conquistou
Rei de copas, você me é
Eu te sou.
Sou pureza impura
Água contaminada,
Sou ódio, amargura.
Arma engatilhada.
Já ditei a ditadura
Agora não digo nada,
Arranquei a armadura
Entrei na banheira gelada.
Não sinto frio
Aqui dentro está vazio,
Perdoe-me a fraqueza
Rei de Copas não é nobreza
É carta de papel
O retrato da pobreza.
Rei de copas chora
Quando encontra a clareza,
O mundo não é tão belo
Assim disse a tristeza.