A HIPOCRISIA ASSASSINA
“A tragédia da Madeira”
A Festa decorria de vento-em-popa
E a bênção da Senhora era espectável
Num manto de berloques em toda a roupa,
E só não via claro a gente louca
Um drama que se previa abominável.
Em menos de um fósforo a árvore caiu,
Caiu porque era mesmo de cair,
E o sangue dos inocentes se esvaiu
Perante a hipocrisia que sumiu
Co´ a alma dos maiorais a denegrir.
- A árvore para nós é muito estranha
E nem sequer sabíamos da sua avença:
Se alguém morreu é tragédia tamanha,
O azar é mesmo assim, tem muita manha
Todavia ela não é nossa pertença…
- A árvore não estava a ser referenciada
Pelos nossos serviços camarários,
E ademais ela é propriedade privada,
Da sua manutenção não nos cabe nada
Façam-se pois os trâmites ordinários…
- A Festa é tradição, é fé e é graça
E contribuindo para a nossa economia
Não podemos assumir o que se passa:
A segurança pública é uma desgraça
Portanto, que s´ entenda co´ a autarquia.
- Temos pelo nosso lado a velha grei
O espaço onde se encontra o vil carvalho
Nem sequer está coberto pela lei
E, em vez de se clamar o aqui-del-rei,
Terá qu´ alguém assumir o seu trabalho…
Mais do que uma hipocrisia assassina
É tão só uma moral bem pobretana
Que varre toda a culpa e é libertina:
Bem prega frei Tomás a lei divina
Mas não se olhe sua atitude humana.
Conclui-se: o pior desta situação –
E isso é um fenómeno d´ espantar –
Ninguém sabe quem é o dono, não,
E assim por culpa ou triste aberração
A Árvore vai ter mesmo que pagar!
Frassino Machado
In ODIRONIAS