Bolha de Sabão
Ah, quem me dera
Se ao invés de ser
Este ser indefinido
Que ninguém sabe o que é
E que jamais saberão
Eu pudesse ter nascido
Embalado e partido
Como um bloco de sabão
Eu roçaria com minha costela
Nos pratos e panelas
E espumaria em tuas mãos
Eu iria morar na sua pia
Me gastar todo dia
Ao te espiar no fogão
Se eu fosse o sabão de côco
com que lavas a tua roupa
Eu abandonaria a cozinha
Só pra ensaboar tuas calcinhas
Até as mais engraçadinhas
Eu iria perfumar
Se eu fosse um sabão tipo pedra
Com que lavam as cobertas das mais sujas orgias
Eu ficaria satisfeito
Por saber que de algum jeito
Me encontraram serventia
Ah, mas se eu recebesse a permissão
De ser uma bolha de sabão
Eu deixaria todo o resto
Colocaria o meu destino no sopro de uma criança
Que tem na alma a esperança de me ver longe do teto
Eu partiria para o infinito
Em um estouro tão bonito
Que eu seria enfim completo