O CEGO DO CAIS VALONGO

O cego do Valongo

segue o rastro no piso azul

para entrar no metrô.

Não impeça a passagem.

O cego sem cão guia,

porque se libertou do cão,

segue com a bengala as marcas azuis da trilha.

Ele quer entrar no metrô e seguir.

O cego já esteve no século XIX,

no Cais do Valongo, na cidade do Rio

chegando nu da África;

já virou e revirou correntes,

mas hoje, contudo, desceu do ônibus,

negro, magro, de calças jeans, camiseta, bengala,

e quis seguir o azul do pavimento.

Não evite seu rumo,

porque o cego sabe onde está.

Ele consegue ser alegórico.

antes de entrar no vagão

e diz para os atônitos da plataforma:

“No mundo dos cegos,

o homem é um meio centauro

e os cavalos são a criação final.

Lindos!”

DO LIVRO: ADVERSOS E OUTROS MOMENTOS

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 11/07/2017
Reeditado em 12/05/2018
Código do texto: T6051964
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