Chuva de Placenta
Chuva de Placenta (e merenda escolar)
Acabo de rabiscar com sangue
O espaço em branco desse maldito conto
Da janela do quarto,
esparramado na cama
Ouvia os pingos brandos,
derramados em ódio de desabafo.
O odor úmido de sangue quente
E o vapor negro de óxido-metal
Ardia como enxofre minhas narinas
Enquanto em prantos o firmamento declamava seu lamento sangrento
Pela escuridão nefasta de orgia
Emanada de sujeira muda de alegria
não eram gotas de água
que os céus mandavam
Era placenta podre que despejava!
Podre! podre! podre, como carniça
de uma dama infectada por sífilis, Aids e gonorréia
E a chuva pútrida de odor de sereia
Emanava a tristeza do feto sem vida
Com garrafas e funis prateados
Satanás ordenou que recolhesse a enxurrada
De sangue, placenta e pedaços de feto
Para que fizesse a sopa
Da nutritiva merenda escolar...