Pigmaleão

I- Suas letras cozinharam no caldo veemente de sua insatisfação!

Tudo questionava, cada gesto alheio debochava

Sua fé aduzia que não havia uma gota miséria de esperança...

Sua expectativa era amarga...

Condenava a humanidade e nada dela esperava

e até mesmo os meios pechosos eram depreciados:

- não sabiam exercer nem mesmo

os próprios modos errados!

Passou por muitas luas sem notar o nascer do sol

Olhou por tanto tempo para as profundezas do abismo

e quando o abismo olhou de volta, não se surpreendeu em ver em si

tudo quanto no mundo reprovou outrora!

Não havia o rubro no sangue e verde algum para ornar com a rosa!

Mas havia cores que guardou no magistério de seu quinhão

e se fora de sua mente o mundo era devastação

em sua poesia morria sua misantropia e cheio de esperança sua fé renascia!

Tal como a fênix, o corvo da noite escrevia com a tinha de suas cinzas!

Monocromático mundo se coloria na gama de cores vivas

da tela mental do poeta.

A beira do abismo, inebriado nas asas entorpecentes de Artemísia

o poeta melhorava o mundo com sua lírica expectativa.

O corvo escritor leu na ires do abismo todo o seu cinismo

escolheu paliar sua empatia para que nada de seu coração fosse esperado

pois um ponto ameno em meio à guerra sempre será o sagrado

de onde muito, menos do que se pode oferecer, será esperado.

E tanto tempo foi a eternidade de um segundo

Passou tão rápido!

II- As flores reassumiram suas cores e o ciclo dos dias eram notados

Se a lua emergia aqui, o sol reinava do outro lado!

Houve um meio sagrado... uma ponte entre a Luz e a escuridão

afastado dos estremos, o poeta malabarista caminhava no fio da navalha...

Eis as suas falas:

- Olhei em tua face humana irmandade

E se de ti fugi foi porque me perdi

não suportei meu reflexo em ti!

Mas tantas vezes estive aqui

e todos os falhos homens que vivem em mim

trazia em mãos um nota de esperança

que juntas formam a canção sublime de uma ciranda!

E se os sonhos tornaram-se reais

sendo profeta de minhas eras

eu as fiz verdade!

Recebi o que esperei

projetei minha certeza absoluta

e ela me encontrou como realidade!

III- O poeta acordou nos vales em flor que, depois das sombra, edificou

estava só e de fronte a depravação de seus irmãos!

Não podia ser pássaro, nem homem e agora, em mãos, só a sacola de seus pecados!

Não havia poesia no abismo... Não havia mais inspiração em seu paraíso

era como se todo o seu lirismo tivesse esgotado...

Em mutismo... Sozinho... Escondeu-se na dobra do destino!

- Eu não fico mais aqui!

Esperei o pior dos homens e de mim...

Não fui decepcionado!

Mas quando fiz da expectativa uma ferramenta de edificação

projetando a paz e os reencontros de amor curando as pérfidas emoções

recebi o uivo reprovador dos lobos e as ovelhas se voltaram raivosas contra o pastor

e eu, que tão orgulhoso fui de meus erros, não sei mais ser aquele macróbio pecador!

Me dividi em passado e presente... E no irrevelado futuro um desconhecido “eu”

esperava em parcimônia as reações de minhas escolhas!

IV- Fermentava a expectativa adicionada na vida!

todos os conflitos faziam parte da reação química...

Compreendeu a trindade humana...

O poeta foi, o poeta é e o poeta será!

Tudo o que esperou de seus irmãos era na verdade o que hoje não fazia

E tudo o que tentava criar foi o que deixou por fazer

e da complexidade de seu senso o futuro era elaborado

e o poeta de amanhã foi gerado!

Esse poeta futurístico hoje é esse poeta que brinca com as letras nesse escrito!

sabe que para maioria está sendo prolixo!

Mas como o rei de Chipre ele esculpiu sua ideia de perfeição!

- Fui abalroado por meus modos compatíveis com meus irmãos

Por que te mudar, humanidade, sem antes oferecer o que exijo?

E por isso colori toda a monocrômica natureza

Dei rosas e adocei com mel os lábios misantropos

o que esperei de ti, humanidade, eu ofereci a mim mesmo

amei a minha profana trindade para aprender a filantropia!

E foi a beira do abismo que esculpi a minha perfeita companhia!

Tão bela escultura, e em meus sonhos possuía uma alma pura

mesmo traído não deixaria de acreditar!

Mesmo ferido não desistiria de lutar!

E uma vez na escuridão saberia se conduzir

para quando chegar na luz não cair na vaidade

Tão linda escultura que soprei nas narinas o folego da realidade

era o que eu queria, o que acreditava!

O que eu fui e o que sou esculpindo o que serei

E esse "serei" está no próximo segundo do relógio

Paradoxo do tempo, eu, nesse singular experimento,

projeto o melhor de mim!

Me reconstruí para poder, enfim, humanidade, amar e te receber!

E nesses dizeres, que poucos podem entender, eu deixo a mensagem

Não te esqueça profeta

são os tuas ações que fazem a profecia tornar-se verdade!

Noah Aaron Thoreserc
Enviado por Noah Aaron Thoreserc em 08/05/2017
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