Florescência

Rastejando por porões estreitos e sombrios

Igual uma barata esmagada se regenerado

Andando a esmo pelos canais de esgotos

Uma ratazana ferida lambendo suas chagas

Escalando as paredes do poço de mil anos

A lagarta mutante buscando como ter casulo

A ave sobre seus ovos espatifados choca cascas

Os olhos marejados e curiosos inquietados

As palavras presas aos dicionários amarelecidos

Não são usadas com precisão e nem por acaso

O útero se contrai em dores que chegam ao coração

O feto que se foi deixando o vazio lancinante

Todas as espécies sendo o que lhes cabem ser

Todos os órgãos comportando-se como o esperado

E uma marginália ousa uma sub vida descontente

As estrelas brilham no céu, o sol clareia o dia

Independente de tudo, a dor e os restos persistem

Estar ou ser não é opção, é sina que se cumpre

É mal sem remédio, é arremedo de uma rebeldia

Estancado o sangue sobra a coagulação que geme

Inexata existência e na sordidez o caráter aflora

Comunhão pressentida na lixeira tem outro valor

Lindo ter integridade nas sobras, belíssimo mesmo!

Rose Stteffen
Enviado por Rose Stteffen em 11/04/2017
Código do texto: T5968144
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