Florescência
Rastejando por porões estreitos e sombrios
Igual uma barata esmagada se regenerado
Andando a esmo pelos canais de esgotos
Uma ratazana ferida lambendo suas chagas
Escalando as paredes do poço de mil anos
A lagarta mutante buscando como ter casulo
A ave sobre seus ovos espatifados choca cascas
Os olhos marejados e curiosos inquietados
As palavras presas aos dicionários amarelecidos
Não são usadas com precisão e nem por acaso
O útero se contrai em dores que chegam ao coração
O feto que se foi deixando o vazio lancinante
Todas as espécies sendo o que lhes cabem ser
Todos os órgãos comportando-se como o esperado
E uma marginália ousa uma sub vida descontente
As estrelas brilham no céu, o sol clareia o dia
Independente de tudo, a dor e os restos persistem
Estar ou ser não é opção, é sina que se cumpre
É mal sem remédio, é arremedo de uma rebeldia
Estancado o sangue sobra a coagulação que geme
Inexata existência e na sordidez o caráter aflora
Comunhão pressentida na lixeira tem outro valor
Lindo ter integridade nas sobras, belíssimo mesmo!