O MAL DO TEMPO
O pólen no rosto faz o dia ter corpo de sonho.
Mas logo toda flor murcha, toda rosa seca,
o céu se fecha diante do primeiro sorriso
seu riso não é páreo para a força do tempo.
Todos os anseios viraram cicatrizes pálidas.
Não se apaixonará mais por coisas reais,
quando o inverno lhe trouxer mágoas cálidas,
lágrimas tépidas qual ácido corroendo o peito.
Nunca teve sequer um companheiro de cela
nem desviou o olhar para quem teve desejo,
pois as ruas lhe cegavam com o preto e o cinza.
Incessantes vertigens, náusea sem apelo.
A vida sempre lhe enganou com versões forjadas
Os contos dos heróis altivos de sua infância
eram eles reles e fracos desertores de sua luta,
canções de triunfo, frustração em discrepância.
O céu lhe restaura a cada nova vinda a Terra,
a cada nova vida, a cada velha guerra cega.
Pelos caminhos aprumados por toda sorte de vento
o exótico, semi-erótico da passagem do tempo.