Silêncio
Virou a esquerda
rumou para casa
passou o vermelho
olhou o relógio
virou a direita
mirou a árvore
estava logo ali
chegou na calçada
abriu o portão
olhou para cima
respirou profundo
segurou o terço
tremeu de leve
escapou a chave
respirou de novo
lembrou da bossa
arrumou o óculos
pegou a chave
olhou para o lado
fechou os olhos
pensou em fugir
voltou para a meta
posicionou a chave
girou devagar
sentiu calafrio
faltou respirar
tremeu por dentro
soltou a chave
pensou em correr
lembrou do conhaque
piscou devagar
olhou para a chave
sabia da espera
queria coragem
tossiu com força
segurou o terço
abriu a porta
silêncio!
Caminhou devagar
sentiu na boca o coração
respirou devagar
calou o medo
se calou
limpou o suor
a mão tremia
caminhou sorrateiro
temia o flagrante
fechou a porta
andou sem rumo
passou pela sala
vitrola tocando
volume zerado
olhou o corredor
no quadro, azul
liberdade
distraiu com o sonho
chegou no quarto
olhou para o leito
sabia da hora
ela dormia
ela dormia?
tremeu por inteiro
perdeu o chão
segurou na porta
e no terço
pensou na morte
limpou o suor
tirou os óculos
limpou a lágrima
tentou falar
silêncio!
Segurou na cama
na mão e na testa
perdeu a cor
ficou imóvel
ela acordou
no fundo sorria
e ele sem graça
correu para o lado
fugiu correndo
sem dizer nada
sem fazer nada
em pleno
silêncio.