ESPIAR
Nem todo canto é de alegria
nem toda palavra esculpida é poesia
veja - o pão sobre a mesa espera a faca da separação
veja - a manteiga espera para se deitar e se fartar na língua
que descerá ao reino da fome para absorver a linguística oratória
do palato que grita ao céu da boca - estou farto . . .estou farto...
Nem toda música é para se ouvida
o canto da metralhadora canta à morte o supor da vida
o pássaro pia porque piar é o que o faz sentir o ar
a mãe que chama o filho escuta do seu amor o brilho
a chama acesa ilumina os arredores das escuras retinas
que ouvem o canto do chicote e o falar do pênis...
Nem todo ovo se choca ao ouvir o estampido da colher
o pai que reza o terço não conhece o berço da humanidade
a fúria da formiga não se compara ao balançar da cortina
nem todo povo é povo ao povo que nunca será godo
aqui e sempre - depois de - haverá o canto de olho...