O CIRCO DA VIDA

Ergui bambus de lado a lado,

eram tantos e tão amarrados

que fiz realidade o sonho ao léu:

feito lona de circo usei o céu...

E tão colorido e cheio de arquibancadas,

e tão de palha o picadeiro e iluminado,

sem leões e sem girafas amarradas

chamei anjos para ficarem ao meu lado...

E as risadas era o bem distribuído

a quem entrasse e a quem saísse de lá,

a quem ficasse tinha o serviço devido,

para o trabalho nesta vida alguns hão de estar...

Equilibristas o voo alçavam ao mais alto,

caíam como penas de um alado pavão,

o burburinho dos pássaros do asfalto

soava como afagos muito além da ilusão...

Mas nem tudo nesta vida é benefício,

há o escuro e com ele vem o susto,

diante dos pés surge o precipício,

a cada polpa mordida tem o custo...

Ninguém sabe do que se disfarça o capiroto,

se de velhinha de bengala, se de cego,

só se sabe que ele não mostra o rosto,

espalha, dando risada, o enferrujado prego...

Pois foi ele o preguiçoso que apareceu

dando gargalhadas e se atirando nos meus braços,

pediu emprego, eu disse imediatamente: é seu,

só queria ser ao povo o mais feliz palhaço...

E foi assim que o céu virou inferno nessa terra,

com tantos a gargalhar e outros tantos a chorar,

pois é na hora de virar bife e picadinho que o boi berra,

e para estragar toda a doçura dessa vida, salgou o mar...