VERDADES DOS LOUCOS
Maldita seja a verdade dos loucos!
É verdade profana,
que vem e invade e corrompe!
Simplifica universos num único pacote.
E o que era genuíno já não existe mais.
Sobram apenas projetos de ser e estar,
que insistem profanar
o que era genuinamente ser e estar.
Maldita seja a verdade dos loucos!
É verdade profana,
que vem e define o que é,
sem deixar espaço ao que poderia ser.
E quão belo poderia!
E quão curioso!
E por que não horroroso?
Mas é absoluta a verdade dos loucos.
Assim flores são flores;
o amor é pra sempre
e a mentira é sincera;
preto é preto e pobre é pobre;
ser é ter, tão somente ter,
e o comer não é querer.
Eu repudio essa loucura.
Verdade profana;
cíclica, simétrica,
impenetrável e imutável;
que em sua magnífica pequenitude,
insiste empacotar o mesmo universo,
a velha forma de ser e estar,
a mesma forma de amar.
Digam lá o que disserem.
Façam lá o que quiserem.
Mas não me enfiem goela a baixo
vossa chaga hereditária,
tudo tão igual a tudo.
Seus engenhos não me servem.
Suas grandíloquas palavras,
em tão orquestrada expressão,
não respondem minha questão.
Não me imponha, pois, este grilhão
que amordaça a mente ao chão.
Pobre infeliz é aquele que não sonha,
quando os sonhos vão além do que se pode aceitar.
Eu lanço a mente contra o tempo.
Vejo déspota ao relento.
Agora o padrão é só História;
comédia pra massa do novo milênio.
Então pobre infeliz gritou: _O céu é o limite!
_Minha loucura vos profana?
_Vou muito além da Lua até Andrômeda.
O novo bizarro é a velha moral.
E o Papa não é mais o tal.
É caído o império,
primeiro as torres,
depois o clero industrial.
Diferença é a nova ordem mundial.
Mas como pode ser verdade minha loucura,
se é a vossa absoluta?
Sinceramente a mim já não importa.
Pois dos seus ditos repetidos,
ecoam no tempo apenas ruídos.
E o que vem na contra-mão
é o velho bizarro
deste velho padrão.
É absoluta minha loucura?
Vossa verdade é absoluta?
Por isso digo, afirmo e não erro:
_Mais valem as incertezas
Que tuas nano filosofias.