VONTADES PASSAGEIRAS

Deu vontade de morder a garganta de Trump,

mas, passou...

Aconcheguei-me no colo de Deus,

esse meu avô com Alzheimer,

que não se lembra mais onde fica a Terra,

que manda suas hordas de anjos

para Saturno porque espera uma invasão de jupiterianos...

Deu vontade de ser feto,

mas não dá...

Enrosquei-me no colo do meu anjo da guarda,

sujeito esquisito, que gosta de se sentar numa nuvem

a declamar poesias para os que passam, lá na baixa terra...

Deu vontade de acabar com os políticos,

mas, repensei...

Me misturei aos que devotam seu tempo ao amor,

aos que dão seu tempo a quem nem tempo tem de viver,

os que acendem fogueiras sinalizando ao meu avô,

esse bondoso velhinho com Alzheimer

que grita com os pombos

quando elas cagam no alpendre...

Deu vontade de escrever uma poesia,

mas não deu...

Acabei esquecendo, como meu avô,

quais as palavras que combinam

e tornam as pessoas suscetíveis às emoções sinceras;

por isso despejei baldes de fonemas na areia do pensamento

e com a água que meu avô rega as flores do seu jardim,

a este poema pus fim...