Luta inglória
Aquela força que ele julgava ter perdido
Ainda mora nos olhos de um menino
Ela conseguiu ver num passado contido
Tudo o que o homem fez num desatino
Ele julgou já tudo até o presente ter vivido
Quando ainda nem sabia o que o esperava
Foi num momento inesperado e sem razão
Quando ele nem por sonho imaginava
Que algo ainda ia lhe causar estranha confusão
Um indescritível e inenarrável maremoto
Invadiu para sempre sua pacata vida e então
Ele começou a cantar na varanda do prédio
Dedilhava na mesa do trabalho estranhas canções
Esqueceu por completo o que significava tédio
Desenhava nas planilhas insossas dos projetos
Imensas estradas com formato de coração
Mas a coragem não era sua melhor qualidade
Sem pelo menos vencer seu bizarro medo
Negou-se viver aquele novo amor que surgia
Guardou bem guardado o que não era segredo
Fingiu desaparecer o que nem sequer escondia
Foi assim que o homem foi tentando apagar
A enorme tatuagem que em seu peito ardia
Sangrando lutava para deixar de ouvir
As canções que loucamente o fazia lembrar
Daquela doçura que na vida monótona surgira
Como esquecer, expulsar, negar tanto sentimento?
Como voltar para aquela esquina tão sombria?
Era o que ele se perguntava a todo o momento
E enquanto isso fechava os olhos e não queria
Admitir que aquele menino já solto vivia
Louco de amor e de medo se trancou em um cais
Não sabia ele, que era ali no mar, pobre louco
Que o seu novo amor ali também se escondia
E quando percebeu que negar não podia mais
Que não existia prisão, grades ou celas
Onde pudesse esconder e sufocar tantos ais
Entrou no barco, soltou as amarras e as velas....