CRACOLÂNDIA LUMINOSA

Chove na "Boca do Lixo",

também a chamam de “Cracolândia”

é uma parte da cidade,

(perto da rua Aurora,

pegada a Estação da Luz).

Cracolândia!

Existe tal lugar?

Prontamente existe.

Surge com as fadas,

está no comércio de doces,

nas portas lacradas e nas pedras fumegantes.

Chove no centro deste mundo.

Paro aqui,

é a Cracolândia.

Existe tal lugar?

Constantemente.

E também brota ao entardecer

quando o “crack” aceso

é um resto do fogo eterno

para quem vem de uma gelada Islândia

e bem prefere daqui,

os sacos de lixo azuis das portarias

e os arcos dourados do viaduto Santa Efigênia.

Estou na Avenida Rio Branco.

Chove.

O bebê da mendiga chora.

A mãe não vê a chuva,

vê a Cracolândia.

O lugar talvez exista.

Ele cresce.

Cresce no brilho dos vaga-lumes

que iluminam os olhares

da plebe deste condomínio.

Mas a Cracolândia existe?

Constantemente,

pois o fantástico vive da longa madrugada

com segredos e dissimulações.

A manhã naquela pousada nunca chegará

pois tudo gira como sirenes.

As fadas se acomodam,

duendes esbugalham os olhos,

renas acompanham

mendigos que não sentem fome.

Saio da Cracolândia

Ela permanece.

Uma chuva rala molha o asfalto mágico.

e um rato imenso de casaca preta,

Mickey Mouse,

em uma esquina da avenida São João.

acena aos turistas.

Lembra a Disneylândia,

outra terra prometida.

DO LIVRO: "A CIDADE POSSÍVEL"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 08/01/2017
Reeditado em 16/11/2018
Código do texto: T5876023
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