Mil Mortes
 


Ah, a dor de morrer mil vezes,
Sob o peso dos mesmos pés,
Que pisam, inclementemente
As asas mais distraídas!
 
Destruir a própria vida
Após o mais longo inverno
Pensando já ter cumprido
Uma estadia no inferno!
 
Segunda morte, que mata
Mais forte, e profundamente
Aquilo que está por dentro
Apodrecido, demente!
 
Ah, a dor de errar de novo
Brandindo uma vara curta
Contra os tentáculos fortes
Do mais destemido polvo!
 
Morder a flor entre os dentes
Até que se quebre o galho,
Amordaçar fortemente
Silenciando o ato falho!
 
Mistério, é tudo mistério,
Do começo até o fim
Pois quem morreu, retornou
E passa a zombar de mim!
 
Ah, a dor de morrer de novo
Sob as rodas mais pesadas
Da carruagem, que passa,
E dela, não fica nada...
 
E o cão só ladra, só ladra,
Uivando, às vezes, à lua
Que observa, refletida
Na suja poça da rua!
 
Na poça da mais vil lama,
A imagem refletida
De quem almejava o céu
Mas perdia a própria vida...



 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 06/12/2016
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