Borboleta
Peço-lhe que permaneças sentado
E já não sei, se deveria lhe contar
Pois deixaria o amigo embasbacado
Com o desatino que iria lhe narrar
Mas para contigo, não guardo segredo algum
Mesmo que quisesse, não poderia lhe enganar
Então contarei, os detalhes, um por um
Mas me prometa que não irá enfartar
Vamos lá: Estava eu sentado
E dos problemas me punha a lamentar
Foi quando vi o tal ser abençoado
Que deixou um rastro púrpureo pelo ar
Voou mais um pouco, e repousou cansado
E lhe juro, ele veio a me fitar
Se até aqui, ainda não tenha enfartado
Tome um pouco d'agua, e volte a me escutar
Juro, fiquei mui admirado
Quando ouvi aquele ser, a me falar
-Não reclames da vida, não é sensato
Acaso o Sol reclama ao se deitar?
Fale com Deus, não só nas horas vagas
Ou tão somente, quando estiver em problemas
Ele está presente nos risos e nas chagas
E não somente na aflição de teus dilemas
Uma amiga minha, vivia encasulada
Já se queixava por não poder voar
Até que veio uma mão bem-intencionada
A ajudar a, sem esforço, se libertar
Mas como foi, aquela ajuda, infeliz
Pois não sabia o mal que estava a praticar
E numa voz fraca, ela vira e me diz:
-Não possuo força alguma pra voar.
Espero que agora descanse em paz
A borboleta que ainda tinha o que viver
Mas aprendi a não esperar demais
De quem não tem cousa alguma a oferecer
Amigo, não sei se o inseto era sagrado
Ou se era um anjo que veio a se disfarçar
Mas com certeza, ele voou realizado
Quando viu minha lágrima rolar.