Simbolismo
Já peguei meu manto de faraó
Meu cajado ressoa
Relincham meus corcéis
E já voa minha biga
Ao sopro das areias a ondular
E do deserto já me acho aportando
Às utopias do livro vermelho
Pista instável, inclinada e deslizante é a vida
Eu antes já disse, outras respostas não se busquem!
É o tempo ritmo supremo de todas as danças:
Amaina o mestre pesados grilhões
Abranda o escravo febricitante cólera
- Os oceanos engoliram já as últimas esperanças
- E eis que surge o último arauto
- Seu cajado anuncia os trovões da última tempestade
- Fé vacilante, bem e mal digladiando nas últimas nuvens
Deprimente e estressante é o abraço da decadência
Máscaras que nos tiram a humanidade
Ratos e vermes extasiados
Lambendo-nos os restos pútridos de orgulho
E eu que nesses anos todos
Tantas montanhas já vi ao mar desabarem
Eu, que estava na multidão
Quando tantos olhares vi trocados
Eu, que estava na escuridão
Quando tantas súplicas tive recusadas
Tão pequeno torna-se o mundo...
O mundo é a próxima atração do próximo segundo
Derrubem-se os muros a todas as liberdades
E ergamos orgulhosos novas opressões
Esperamos cintilar outras estrelas no horizonte
Em meio a tamanho espaço
Onde não é bem-vinda a vida
E eu não esperava que me assistissem
Atirando-me arranha-céu abaixo
Mas eu vejo o prazer escorrer por tantos lábios
Saboreando seus cigarros sabor-de-frutas
Agora que estavam cansados de ver-me ao ócio
Apreciando minhas dissolutas porcarias
Enquanto da própria sujeira
Fazia vestes às minhas mercadorias
Para depois vomitar minhas romântico-modernistas teorias
É, mas os ventos anunciam já novas vivências
É, e suas rajadas novos vapores já trazem
E involuntários todos são
Aqueles que sob abrigo se põem
De ofertas milagrosas e aventuranças tantas
Que nos dias atuais se acham em liquidações
Porque quando lhe digo que em verdade
Tempo é tudo o que nunca tivemos
(Tempo de nascer, tempo de amar, tempo de pensar, tempo de morrer)
Entenda que em princípio desilusão é a herança maior
Que nos reserva da vida o raiar