Viagem
A estrada passa descompassada
No ritmo compassado do ônibus.
A chuva pinga respingando
O vidro, o colo e a pinga
Uns falam, outros calam.
Uns dormem, outros espiam
A estrada comendo o ônibus
Ou o ônibus comendo a estrada.
Os pássaros de olhos fechados
No verde da mata desmaiam
Sob o cinza do chapéu no céu.
E o poeta sobre as cores do concreto
As nuvens encolhem-se se recolhem
Escolhendo para dormir.
A ponte desaba inacabada
Com pontas de aço cruzadas.
Conto e reconto os containers
Formando anéis nos cantos dos olhos
As janelas das fábricas enjaularam o dia
... E nada se fabrica
E lá se vai a tarde morrendo