Era
Deixou fugir de si aquilo
e na sua frente o viu tomar forma
transfigurou-se em algo incompreensível
era demais, não havia volta
Caiu no abismo que subia
e lá de dentro não via mais nada
não havia naquilo um sequer sentido
em tudo que surgia, tudo acabava
Procurou rastejar sem sucesso
não mais caía, não mais ficava
não mais existia, era passado
e o que havia sido não mais importava
Procurou sentir algo, tateou dor
num gosto igualmente áspero e amargo
não ouviu nada, apenas escuro
nada restou além do estrago
O que saiu então o viu, riu
se virou, seguiu adiante e sumiu
tomou seu lugar e nada o parou
ninguém percebeu, ninguém se importou
E o que era se foi
vendo o que um dia viveu
afogou-se no triste fim
e lá então morreu