SOBRE OS SUJEITOS (em construção)
I
Por quantos caminhos andei
se caminho por onde nunca estive
dentro de mim em constante sobressalto
refazendo instantes desprendidos da vida inventada
dos sujeitos que ‘eu vai’ encontrando?
Caminhos, sujeitos, instantes que se perdem
igualmente sorvidos no tempo absoluto
da coisa não-vivida definitivamente incorporados
na sonâmbula constelação do entrevisto-mencionado
no para sempre recontado mais uma vez nunca-estado.
Baltazar
II
Por toda parte, nas ruas inventadas por onde ando
e também nestas valas virtuais por onde me perco,
escorrem narrativas discurso de pessoas inventadas.
Por ali vagam leitores inventados, sujeitos de carne e osso
e poetas que ‘longe do estéril turbilhão da rua
escrevem no aconchego do claustro’
nesse amalgama de vozes,
cheios da boa vontade e disposição
para fazer do lagar vazio um lugar pisado
igualmente suam e teimam, limam e sofrem.
Alguns desses sujeitos são pacatos silentes
outros, sujeitos à vontade alheia, dormem
poucos são livres pensadores resilistes
mas todos, todos acolhem ventanias
e multiplicando identidades comungam raízes
na confluência poética das vontades.
II
Assim, quando mal dobro a esquina de uma frase remetida
dou de cara com o mais feliz dos sujeitos.
É o sujeito simples, certo de si todo tempo
Ele se distingue na cópula dos sujeitos embriagados
nesse constante azurrar, relinchar, zornar, zurrar uns e outros.
Ali não demoro ouvindo mas faço contas da conversa
e fico sabendo que o sujeito oculto agora tem nome pomposo
dizem dele que é elíptico subentendido,
que é desinencial.
Que divertido!
Nomenclaturas são flores semânticas enxertadas
mudam de cor
e conservam raízes no campo onde foram semeadas.
Aquele sujeito, o sujeito simples, não tem nada de singular.
Não me detém o flerte seus olhos secos encarnados
e mutuo na elipse desse que se fizera oculto
sugere outro caminho e seguimos juntos.
III
Não se diz bom dia lembrando que logo não será,
tão rápido nos transforma e a vida a ciência de acordar.
Que seja bom o que nem sempre começara bem
pois que finda mesmo não querendo tudo o que há.
É o ditado, quem muito fala dá bom dia à cavalo.
Eu cumprimento cada coisa: bom dia, bom dia!
Saúdo um estranho que passa, com flores eu falo
e canto desarranjado na busca desse um bom dia.
A gente miúda segue em frente olhando para traz,
fazendo cara de paisagem, fingem ignorar os sinais.
Festejamos o brilho na brevidade sorvendo as horas
até que o tempo chegue ao Tempo e então despertos
fazemos mais uma vez a antiga primeira pergunta:
seria a Morte o sujeito oculto que sempre persegui?
No intento de reconhecer os sujeitos
logro o auto-engano e busco o sujeito
indeterminado, acrescento-lhe figura
depois eu contA
Baltazar