SILÊNCIO
Emergia uma construção
Sem que morfologia se pudesse notar
De tal forma que vultos cresciam,
Esboçavam portas a se arranjar numa grande circunferência
No centro por ora visível, um ser estático observava
Portas abriam-se uma a uma
Das portas surgiam figuras
Que se olhavam nos olhos
Profundamente
Lá no centro,
Eu, invisível,
Eu, estática
Observava
Conversavam com os olhos
Num silêncio dançavam ideias
Corriam feito o vento
De uma porta a outra
Num tempo transcorrido
E diverso do que conhecemos
Algo que num segundo pudessem passar anos
Uma nova linguagem surgiu
A linguagem dos olhares
E apenas deles
Fugazes, diretos, únicos
Olhares se materializavam em fluídos
Diante dos meus cristalinos
Para minha total estupefação
Ora que coisa mais linda jamais tinha visto
Eu, que prezara já tanto o silêncio
Nas suas formas diversas intenções
Presenciava ali, num instante,
O silêncio dançante
Dentre os olhos daqueles amantes
Que de tão compenetrados
Nem percebiam ali,
Minha insignificante representação