revelações da noite fria
Mal toco as palavras....
são nervuras, asperezas sob os dedos
quando é noite e prata e orvalho
e sombras se mesclam sob o luar!
Mal toco a superfície da dor
mal toco o frio das facas afiadas
tenho os dedos hirtos, fugidios
Intuo caminhos de muitos pés
de pisar suave , quase em voo
Respiro as aragens úmidas
na noite que já foge
aos poucos se dilui nos clarões
da aurora
A casa dorme , os anjos bocejam
e já querem adormecer
De leve piso a pedra fria da varanda...
Mal toco as bordas dos mistérios
de mais uma noite
Os lírios rescendem insultosamente
as rendas sobre a mesa estremecem
com seus fantasmas de mãos que as teceram
Cansei das verdades sem fundo
cansei das mentiras
tudo que as ondas apagam
Somos ainda os mesmos corpos
de gerações que sempre retornam
Marcas dos que já se foram
estão ali há tanto tempo
Ao longe um sino é realidade
inexorável
Por trás dos montes
uma luz anuncia
que tudo recomeça
Recosto a cabeça
sobre a mesa
e adormeço nos séculos
que me precederam!