Tela minha

*A MÁQUINA DO TEMPO


Andava eu em noite escura
nem percebia o vento me arrastar
o mar despojo engolia meu pensar.

Lutei nesse invólucro pequenino
queria o tal enlace engolir meu
sorriso, amor, destarte meu terror,

a lua altiva me olhava sob um prisma
metade desdentada mastigava,
o vento atordoado se torcia,

a luz surgiu clareou, se escondeu,
pendurava-me trêmula, confusa,
não sabia se era dia ou se tortura.

A ventania arrebatou-me, prazerosa,
no poste fios pretos torturantes
num enroscado desafio e direção

amarrou-me, eu ali na contramão
gemidos sonegados quase ali
e gritos estridentes na pracinha.

Eu vi, meu olhar medrava na distância,
a mente qual elástico se estendia,
embaixo, o lobo da noite se torcia,

prédios se deslocavam do lugar
na minha direção se aglomeravam
eu indefesa, a sorte fabricava:

sorrir não posso, chorar não devo?
Ouvi o choro da criança ao nascer
mais uma cria no sólido mistério.

Soa assim as coisas do labirinto
a máquina do mundo nunca para
cai, levantei, sorri caminhei sem rumo.

Nada sei, e nada sou. Sou pêndulo
num vai e vem, sujeita a minutos,
horas, segundos, mistificados assim.
Sonia Nogueira
Enviado por Sonia Nogueira em 23/09/2016
Código do texto: T5770166
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