Estou triste.
Triste, não por mim.
Triste por não mais o meu lá fora
(onde quer que eu esteja)
ser extensão do que eu viva.
 
Por isso, toque para mim violino e piano,
e oboé também,
não se demore.
 
Passo por uma rua ocupada  
por um luar
que parece os tantos de outrora...
mas já não sou quem (ali ) que de alegria, chora.
 
Não sou eu quem anda e procura
e escreve, no silêncio da Hora vazia,  
as angústias das pedras
madrepérolas
enxertando a poesia.
As pedras estão frias, pois a noite
não está morna,
e o meu coração lacrimeja,
de alegria ou de tristeza, ao sentir
que não sou eu quem (em algum lugar) ainda ri do que chora.
 
 
Toque para mim violoncelo,
concertina, celesta, trombone
e flauta,
antes que as sombras se tornem uma só estrada.
Toque pífano, ocarina, bandoneon,
e um pouco de acordeão,
que tudo cabe em meu coração
que, sem saber porquê,
a tudo ama e adora,
mas não sou eu quem vibra a corda do berimbal
que ao longe chora.
 
Ana Liss
Enviado por Ana Liss em 20/09/2016
Código do texto: T5766534
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