Carnagens
Houve um tempo, um tempo em névoas
Um tempo em que a vida respirava morte
Na brisa da manhã, lançava-me ao campo
Esperança, única proibição
Corvos e abutres, única exaltação
Sem tempo para o amor
Abominando prazeres e ilusões
Abraçando tão-só o que fica, a dor
As areias do tempo transportam a maldição
Horrores e fumaça colorem a desolação
Um rei fica à deriva, perecem seus corsários
Seus generais a cobrir o flanco leste
Clamam em desespero, ávidos por mercenários
Outrora déspota, agora escondido sob mantas
Mais não marcha, impassível sobre indefesos e crianças
É já tarde para rever o capital pecado
É já tarde para o recurso ao condenado
Sem remorso, sem piedade, é hora da verdade
Sem perdão, sem remissão, é hora da igualdade
Descem ao rubro vale demoníacas hordas
Ao pior do Criador derrubam-se as portas
O mesmo é o tilintar das moedas:
Das carícias da prostituta
Ao punho desferindo o aço
Pois o dinheiro ri da necessidade do pobre
Assim como beija a satisfação do rico
Mais carne, então produzamos!
- Carne, eis o vil alimento da guerra
- Sangue, eis apenas o que temos
Variados são os caminhos
Uma dívida sempre a se pagar
Das chamas de Moloque
Às águas do batismo
E somente a perdição a se alcançar