<IA>Alma de vidro

Alma de vidro

Na lassidão da noite que se arrasta,

em suas horas cáusticas,

elásticas,

que se ancoram às negras nuvens,

grávidas de chuvas,

me trazem gatilhos à mente,

descargas de lembranças turvas,

ácidas,

visgos de tempos antigos,

de lumes que não tive...

Frágil e obscuro,

me tomo em redoma...

o tempo em mormaço veio pra tentar

trincar a minha alma de vidro...

Perdi-me...

daquilo que não foi feito,

tudo se perdeu...

Paisagem de triste plástica...

Pr'onde os ventos levaram o azul?...

E a lua em sua solidão?

No céu,

vestidas em seu véu escuro,

estrelas se escondem

mentindo que é o fim...

Risca no breu um corisco

só pro bradar do trovão

e as nuvens, em seu ventre aquoso,

preguiçosas choram...

e tudo em mim silencia.

Não sei o que mais virá ...

tudo anda igual como antes,

nesse marasmo não há pontes

pra que se alcance a luz...

Nada de novo há no front

nem mesmo um fio de horizonte

e no ontem, escuridão...