SUBMARINOS DO ESPELHO D'AGUA
Imenso sublime deste azul Aqueronte.
Submergira a alma de metal quente.
Nas profundezas sem horizonte
A Insaciável fúria de ti Caronte
Paga com sangue inocente.
Óbolo pagão que conquistas à ferros
Obreiros teus na fornalha encerres.
Brutos amontoados aos berros,
A ínfera nau não admite erros
Zurra feral, chistes soterres.
Fundo marinho de mistérios impunes
À mimética sombra de teus clones
Esperam argonautas infortunes.
Que do aço nascidos tu unes
Para que afundai; destrones.
Barcaça de fogo; espúrias dos mares.
Rasga as setas de teus propulsores,
Invocai os espíritos supersonares;
As gárgulas cilíndrico nucleares.
Inflamai os mares, senhores!
Não vos afogueis na urgência vagante.
Esquecei-vos o reflexo fluorescente,
Afundai juntos no escuro reinante,
Neste narciso catódico errante.
O batiscafo autoindulgente.
[…]
Parte logo daqui submarinista detento!
A quimera enantiodrômica de pranto,
Cujo infinito e inconsciente intento
Nada resulta além de sofrimento,
Serviu aos homens de encanto.
Suicidas atômicos de jactâncias caros.
És tua nostalgia maior, erógeno Eros.
Fazeis voar como parvos pássaros,
Os que anseiam teus louros raros
E sem asas nadam desesperos.
Mergulha tu também no mar dos infames,
Meretriz de todos os marinos cardumes.
Que agora fadados em rumo e trames,
Resmungam na barca dos reclames
Dos antigos e viciosos costumes.
Das águas límpidas e as perfeitas fomes
Às planícies ultraprofundas e íngremes,
Perfeição que nadifica vossos nomes.
Modéstia, virtude digna de agnomes,
Loucura para um barco sem lemes.
O nautilus narcísico culmina este conto.
As chapas titânicas de sangues tinto
Demarcam o último e fiel confronto.
Patologia prima; o terrível encontro
De egos refratados, agora extinto.
Hernâni Arriscado - SUBMARINOS DO ESPELHO D'AGUA.