Noite

Eu queria escrever palavras belas,

Mas não saem alegrias dessas sombras.

A melancolia bloqueia meus sentidos,

Somente o dia criaria versos lívidos.

Pactuando com a noite sem estrelas,

Onde a escuridão malogra uma esperança,

Frondosas árvores como almas em ramagens,

Assombrosas salientam as paisagens.

Se eu entonar uma voz que vem de dentro,

E recitar decálogos de um Santo,

Ou declamar poemas de invento,

A Noite ufanaria o meu pranto?

Na varanda, só, contemplo o vasto

Onde a escuridão dispersa os simulacros.

Tudo é nada neste vão íngreme quadro

De escuridão como um espectro ao meu lado...

Se eu proferir em alta voz, bradar um canto!

E exprimir todo o sentido dessa Noite?

Se eu usurpar os seus segredos, formar versos

E confessar aos quatro ventos seus mistérios?

Se eu for à rua e proclamar palavras soltas,

Reminiscências de uma atriz no palco, louca,

Os propínquos acordariam assustados

A contestar o silêncio quebrado, exaltados?

A dama Noite o que faria em minha récita?

Teria pena ao consolar- me pragmática ateia

Ou aplaudiria atenta como uma lacônica plateia?

Mas não me movo a nada, atônita, sou inércia!

Ela observa de soslaio e me indaga

Por eu estar lúgubre, mais triste que a vaga.

Ela pergunta destas lágrimas que inunda,

Da dor precípua que em meu peito é tão profunda...

Noite obscura me encara com desprezo,

Pálida e fria respira em mim, um nevoeiro...

Não me arrepias, não percebes, dama informe?

Estou acordada, absorta, o medo dorme.

Tatiane Sales
Enviado por Tatiane Sales em 03/06/2016
Reeditado em 04/09/2016
Código do texto: T5655625
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