O olho que viu a ultima guerra
É muito difícil, ver com sangue nos olhos.
Uma doce lembrança de bondade,
Para o buraco que fui, lembranças...
Vendo aqui de baixo,
Admirando o triste fim,
Vendo as pessoas se afogarem em desespero,
Sendo obrigado à mata las...
Mais um dia que não vimos o sol,
Mas já estamos acostumados,
A triste sombra que caminha com o batalhão,
Assim vamos nós...
Tentamos dormir,
Mas somos acordados,
Por aqueles que foram privados da vida,
Com tapas na cara e gritos...
Nunca vi nada igual,
Isso não tem fim,
Perdemos o contato com a base,
Mas a guerra não acaba...
Tenho fome,
Tenho sono,
Tenho medo,
Tenho vontade de viver,
Meu corpo parece morto...
Meu desejo é sair daqui,
Contemplar o sol,
Abandonar essa escuridão,
Que sorri alegremente para o batalhão...
Aqui a vida parece ter mais valor,
Sinto saudades da minha família,
Uma dor que quer arrancar meu coração.
Achamos que tudo era possível,
Mas esquecemos das coisas ruins,
Mergulhamos em uma densa escuridão,
Apenas para matar nosso inimigo,
Tenho certeza que esse lugar,
Não é nosso mundo,
O que vi, o que fiz, não é humano,
E os sussurros...
Atacamos como bestas selvagens,
Com raiva e loucura,
Mas teve o seu preço,
O escuro ficou maior...
Ele consumia as pessoas,
Varias cometeram suicídio,
Outras ficaram loucas,
O preço da guerra...
Foi em um dia,
Que eu pensava ser de manhã,
Que a vi...
Movendo o escuro,
Levando apenas a alma,
Deixando o corpo queimar,
Atrás dela o vazio sombrio...
Aproximou-se de mim,
Logo estava bem na minha cara,
Seu toque me fez sentir frio,
Depois dor.
Atirei com minha 357,
Mas logo vi que não adiantava,
Tentei usar minha faca,
Mas ao perfurar ela,
A lamina sumiu...
Esse inferno não tem fim,
Ela não vai embora,
E eu não posso ir,
Devo seguir minhas ordens...
A dor consome meu corpo,
Seus ataques são cheios de ódio,
Vejo meu corpo ser mutilado,
Mas estarei aqui amanhã,
Onde o sol não nasce,
Meus camaradas mortos,
Minha esperança enterrada...
Por essa guerra,
Devemos enfrentar nossos medos,
Eles dizem,
Acho que nunca viram ela...
Aqui nas trincheiras,
O cheiro de amigos mortos domina,
Da mais gás para a batalha,
Enterramos nossos amigos...
A fome...
A desgraça dessa terra estranha,
A loucura dos campos de batalha,
O medo, o medo terrível que sinto de morrer...
Alem do fronte do inimigo,
Vejo meus camaradas caminharem,
Eles parecem felizes e descansados,
Por que?
Por um momento choro por eles,
Estão bem...
Vão em paz camaradas,
Nós ainda estamos presos aqui...
Mais um dia que parece noite,
Só acho estranho não ver mais bandeias,
Meu superior se irritou com minha pergunta,
Disse para continuar...
Em meio de uma bomba e outra,
Pergunto-me, continuar para onde?
Apenas caminhamos para sermos mordidos,
As criaturas que sobem do abismo,
Mordem como se estivessem morrendo de fome,
Suas mordidas fundas que quebram ossos...
Mas é o preço da guerra,
Minha escolha achei que seria útil,
Nos começamos a guerra,
Mas eles terminaram...
Não sei onde,
Mas atravessamos o limite,
E o imaginável aconteceu,
Talvez por castigo...
Só as crianças acreditavam,
Ficamos com cara de tolos,
Tudo era verdade,
O escuro tem vida própria...
Aqui tudo é mais cruel...
Cristiano Siqueira 26/05/16