PÉ ANTE PÉ

Minha caneta sem tinta já não escreve poesia,

as imagina, mais ainda, em teares que a mente cria,

as devolve em fluxos de pensamentos, pelo espaço,

como se palavras, para comporem suas melodias,

umas às outras dessem os braços...

E pousam como fazem as abelhas na lida do pólen,

esvoaçam diante da luz que paira, absoluta,

do reino que vieram trazem edifícios enormes,

de versos que outros versos em si ocultam...

Minha'alma sem plasma se pasma na calma

da poesia que desce do céu ao chão como um rio,

e, como se num salmo cantasse e desse salva,

se cobre de versos humanos à guiza de não sentir frio...

Tesouros se abrem como se numa caverna escura,

poças do que será se juntam ao que é;

apanho fragmentos que toda a eternidade duram,

saio do mundo dos versos, pé ante pé...