Apanhadores de Vento
Pura nitidez!
Raios de sol que dançam
Nas águas do mar
Brilhando nas tardes de domingo,
Como música serena
Que entoam as musas escuras
Cheias de doces amarguras
Perfume forte, denso
Meu cachimbo devorou
Os dias deste brio azul
Que queima feito fogo ardente
Em gamas de poeira e vento estridente
No profundo âmago de cérebro demente
Onde as almas esfarrapadas
Galopam em cavalos velozes, sonhadores.
Vi-te no banco da praça, mórbida
Calcada como estátua congelada
Ao olhar a fluidez do mundo
O canto dos pássaros
O grito das vozes algemadas
Deslizando em dedos esqueléticos
Porções de areia granulada.
O vinil de Abril entoa a lamuriosa voz
Dos dias nojentos, sórdidos
Soprando músicas ao vento
E o ébrio se esfola em goles de cachaça
Aquecida pelo nada
Vendo folhas a cair
E pombos a petiscar as migalhas
O poeta dos sonhos solitários
Soletra os versos triturados
Imputados no espírito controverso
É poesia de boteco
Que faz o mundo girar
A vida dançar
O louco gritar
Debaixo da saia das damas
Seguindo os paços da bailarina
Vi-te morrer, pensando
Bebendo vinho amargo
Subindo escadas
Cortando avenidas
Ditando rimas nas ruas escavacadas
E nas campinas
Em dias de madrugada
És um apanhador de sentido
Um poeta feliz.