O SONETO NA ILHA DOS MORTOS, SEQUÊNCIA

O SONETO NA ILHA DOS MORTOS 01

Cavalgando em meus dilemas

Eu fui à ilha dos mortos

E encontrei lá, entre poemas,

O maior de todos os abortos.

Reconheci-o de imediato

Era o velho soneto eterno

Tão caduco e abstracto

Sofrendo naquele inferno.

Ponta aqui e ponta ali

Cada frase a fingir verso

Foi tudo o que ali senti

Num ossário controverso.

Em vez de cabeça, caveira,

Catorze pernas meias tortas

Livros velhos de cabeceira

Com mãos frias quase mortas.

Soneto, como te puseram,

Já tresandas a bafio

Os poetas que te escreveram

Têm-te preso por um fio!

Frassino Machado

In AO CORRER DA PENA

*

O SONETO NA ILHA DOS MORTOS 02

“Tu que passas, ó viandante,

Quer sejas poeta ou não,

Não prossigas adiante

E olha a minha condição.

Sobre mim todos abusam,

Quase sem ler nem escrever,

Muitos poetas me usam

Sem que me saibam fazer.

Não querem saber de métricas

Nem quantos versos terei,

Mas em todas as poéticas

Que eu saiba ainda há lei.

Não tenho grande vaidade

E desdenho quem a procure

Mas para haver qualidade

Há que ter alma que dure.

Usam penas presunçosas

E eu bailo por entre os dedos

Ficam-me penas dolorosas

Revestidas de meus medos.

Não admito quem me ofenda

Fazendo de mim um joguete,

Quem não sabe que aprenda

Pra ter direito ao banquete.”

Frassino Machado

In AO CORRER DA PENA

*

O SONETO NA ILHA DOS MORTOS 03

Ai, ó soneto meu irmão,

Eu partilho do teu lamento

E porque te tenho afeição

Dou-te um afecto e um alento.

Mas afasta a nostalgia,

Ele há poetas dedicados,

E no ofício da poesia

São raros os superdotados.

Estás na onda popular,

É esta a moeda de troca,

A tua magia a rarear

Num´ alma por vezes oca.

Quero, porém, dar-te a mão,

Sem vaidade nem galanteio,

Tirar-te-ei da maldição

E do macabro bloqueio.

A tua morte já é notícia,

Desta ilha quero sair

Livrar-te-ei da sevícia

Pra que voltes a florir.

Soneto, nobre poema,

Não te louvo por acaso

Mas por seres jóia suprema

De todo o divinal Parnaso!

Frassino Machado

In AO CORRER DA PENA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 05/05/2016
Reeditado em 05/05/2016
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