Reflexões de abril (2)
Você deixou um lugar marcado.
Esqueceu de voltar.
Não quis mais assistir o espetáculo,
quis se mudar.
Perdi seu endereço.
O tempo incoerente da minha mente
até seu rosto levou.
Tantos, tantos anos ausente...
por onde, afinal, você passou?
Passou por dentro do meu coração,
pisando firme, deixando rastros.
Se apoiou no meu ombro, nas minhas mãos,
era, então, um ninho seu abraço.
Cósmicamente caminhamos,
como estrelas, lado a lado
e nos iluminamos mutuamente,
nosso deus era um mágico.
Chegou o tempo das ervas daninhas,
do ventre da terra que brota espinhos.
Do gotejar de uma chuva fininha,
mas que faz um lamaçal nos caminhos.
E você se foi...
voar para além das estrelas.
Para além do vento que erra
para além de todas as terras.
A gruta no Natal escureceu.
A lenda viva se apagou.
A ceia da vida cedeu às uvas secas
aquela rosa na toalha branca
que pelo túnel do tempo escapou.