ENTERRO DE UM AMIGO

[...] o despercebido trabalho dos coveiros

na hora mais triste de seu ofício:

a de serem enterrados por outras mãos.

Gabriel Nascente

A pá se atirou sobre o caixão

Em busca da cálida e calejada mão,

Que pelo seu corpo tanto andou.

Conformada, a pá jogou

O último punhado

De terra barata.

A pá chorou

Dessas lágrimas de lama vermelha.

Nem uma rosa rubra pôde comprar.

A pá no sacrilégio do ofício

Enterrou seu velho amigo.

Morreu num dia de chuva, o coveiro.