O Viço da Flor

Perde o viço à beleza, ó rara flor,

despedida de minha face quando eu nasci,

fadada às marcas de meus pecados.

Trouxe-me ela, o vento da parturição,

comigo às mãos, e o Outono no olhar,

essa rude parteira que é a vida.

Fiquei no passadiço entre as muralhas.

Um ser fora da água do ventre,

pronto para sofrer e ser irreverente,

descumprir o que se costuma cumprir nos jardins do tempo.

Mais tarde, ao chão, cairia o corpo!

O companheiro do vento e a ventania,

que, com áspera cordialidade, me derrubou,

eu, meu tempo e o meu amor,

desdizendo da vida e de seus encantos.

O viço das coisas jamais se acabará com a morte

porque não há eternidade para a carne

e sempre haverá o choro, os choros o choro.

Todas as vezes que me angustiar um “parto”

qualquer alheio parto também,

de uma mãe ou da mãe de ninguém,

hei de chorar, hei de sorrir, hei de parir, hei de ficar.

A flor jamais perderá seu viço, acredito, existo, ó rara Flor....!