A FLOR NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho

Havia uma vermelha flor.

Perguntei-lhe:

“O que fazes aí nobre flor?”

Ela respondeu:

“Estou a olhar o caminho dos viajantes,

Cada qual, com sua história e trajetória.

Isso me fascina, por isso, nasci, aqui,

Bem no meio do caminho de idas e vindas.”

Rapidamente, preocupado, retruquei:

“Mas tu não temes os perigos de morar aqui?

Ser pisada ou atropelada por carroças?”

Ela risonha disse:

“Não me importo, me sacudo toda

Contorço-me como ninguém, ás vezes,

Perco uma folha, arranho uma pétala.

Um preço baixo a pagar pelas histórias

Inusitadas e divertidas que vejo e ouço.”

Fiquei extasiado com tão serena flor

Logo lhe desejei boa sorte em sua permanente

Estada, e segui meu caminho. A flor ficou ali

No meio da senda, vermelha como o sangue

Escutando histórias passageiras da vida.

Num dia distante um novo transeunte passava

Por aquelas bandas. Assim que ele viu

Tão vermelha flor sem pestanejar

Abaixou-se e arrancou a flor pela raiz.

Em seus últimos suspiros a flor perguntou:

“Porque fizeste isto, homem? Não fiz a ti mal algum?”

O homem de sorriso encardido respondeu:

“Não gosto de flores fofoqueiras no meio do caminho,

Ainda mais se for vermelha. Odeio, odeio.”

E assim, a flor vermelha morreu

Atirada na sarjeta à beira do caminho.