O velho e a mina
Meu corpo pelado,
sem pele,
Tiro terra com minhas unhas
que ainda restam...
Eu não tenho descanso.
Por favor me salve.
A carne cai dos dedos,
e somos obrigados a continuar.
Aqui onde o calor mata,
Onde a água é um desejo,
Deitamos nossas cabeças
e pedimos para morrer.
A ganância do rei
é nossa cova.
Temos fome...
Vimos nossos parentes
mortos caminharem
entre nós.
O horror não tem fim,
vivos e mortos
trabalham para sempre.
O sol se foi à tempos.
Mergulhados no escuro
e dor.
De vez em quando,
Ela sorri para nós.
E sabemos que alguém
vai morrer.
Nem todo vinho do mundo,
nem todo dinheiro do mundo,
nem todas mulheres do mundo
pagam esse tormento.
No fundo da terra,
tão perto do inferno,
que posso ouvir o diabo chamar.
Mais fundo.
Cavamos ainda mais.
Vemos criaturas entre nós.
Mas o dinheiro é muito
então vale o perigo.
A vida lá em cima
não é fácil.
Gosto da filha do meu amigo
mas ela é uma oportunista.
Assim cavo mais fundo
na esperança de ser feliz
ou morrer soterrado
Em meio a floresta,
vejo fantasmas
e outras coisas que não sei descrever.
È assustador.
Mas quando o sol se apaga para mim,
eu devo entrar na terra
como um tatu.
Minha vida acabou.
Mergulhando mais fundo,
até achar a cidade secreta.
Homens toupeiras,
que abandonaram a humanidade.
O mundo acima sofre com a morte,
nada fazemos sobre isso.
Estamos em guerra.
Morte é uma vitória.
Em meio a cadáveres,
cavo minha saída
Para um mundo novo
em meio a costelas.
Vejo o fim de uma raça
que se achava a melhor.
Seus corpos foram invadidos
por doenças que não conheciam.
Sua comida logo acabou
o que gerou guerra.
E mais de um terço morreu.
É triste ver que nosso fim é assim.
Ganância e morte.
Sem saber para onde ir.
Deitamos no chão
esperamos a foice da morte
Ela virá, eu sei...
Cavamos nossas esperanças
nas minas
sem saber que eram nossos túmulos.
Cristiano Siqueira 20/03/2016