sem título

A TRANSLUCIDEZ dessa água

Que umedece meu cabelo

No frio dessa manhã opaca,

Faz-me pensar em tudo o que é natural,

Brilha e é cortante.

Cortante é essa água gelada em minha cara.

E o golpe martirizante

Da lâmina da lembrança tosca e abrupta

Que me vem como um espectro mais-que-real.

Bicas de suor.

Jatos de seiva masculina.

Cachoeiras da desembocadura da fêmea.

Oceanos de sangue. Do nosso sangue:

Este sangue que é a essência

De nossa totalidade em estado de ingratidão e espera.

Somos filhos ingratos da água.

E cada gota da tua lágrima

Retém a história.

Traz em si a arquitetura somática.

Carrega a escultura do átomo –

Que é arte (pura arte).

Da molécula que entrega-nos essa carne crua e aquosa,

Atômica, e infinitamente bela.

Ah! Beleza que massacra e avassala.

Aspereza no mais doce estado de conforto.

Desassossego velado na maciez.

O Globo Repórter tem razão.

O Greenpeace tem razão.

E Jacques Cousteau tinha razão.

Luciano Fortunato
Enviado por Luciano Fortunato em 09/07/2007
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