Mau tempo

Hoje, ao amanhecer

notei que o antigo relógio

da sala havia derretido.

Os números escorriam pela parede

deixando marcas grotescas nela.

Os ponteiros maiores caiam

e se enfiavam nos vãos

do gasto assoalho como

se fossem espadas.

O ponteiro menor agonizava

retorcido junto aos pés

do velho sofá.

O badalo endoidecido

rodopiava pela sala

emitindo sons ensurdecedores.

Algo dentro de mim, naquele instante,

começou a desmoronar-se

Corri para a janela.

Abri as cortinas desbotadas.

Precisava sentir o ar da manhã.

Nada aconteceu!

Fui para o banheiro, cambaleante.

Vomitei no encardido bidê.

Quando procurei pelo espelho

não me vi.

Quando me apalpei

não me senti.

Quando decidi gritar por socorro

enlouqueci

Quando quis reagir

me derreti

E então...

Manchas vermelhas

escorreram pelo velho assoalho.

Ossos cairam como espadas

e se retorceram aos pés do sofá.

E um grito ensurdecedor

explodiu violentamente de dentro

do que restou de mim.

Ludimar Gomes molina
Enviado por Ludimar Gomes molina em 07/07/2007
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