Rios dos tempos

Essas águas das poças,

tantas poças....

as soleiras tão tristes,

a tosse, a insônia que só anda em círculos.

Quem pode ouvir o canto dos ventos enlouquecidos

em cinza e chuva e frio,

sob os tropéis insanos dos mitos?

Suas línguas são vazias de acenos.

São somente rios que despertam em cada peito

sob telas silenciosas de estrelas.

Imenso véu aberto à espreita

da vida que não segue, não consegue seguir

sob o sol da alucinação dessas águas,

de dentro, de fora...

Não adianta ir embora.

Pra onde? Onde encontrar as mãos que salvam?

Até onde essas águas chegarão

ainda farejando margens,

ainda matando flores?

Estanco à porta e ouço a terra chorar

e as formigas suplicarem

pelo retorno da esperança.