Ao despertar apenas...

Vencido pela profunda angústia da minha mágoa, despertei quando o jovem rosto da manhã contornado de luz e o mar de nuvens fez sua coroa, me convidaram para o banquete do dia. Levantei e percebi que não fora um pesadelo... A presença da sua ausência era a mais pura e triste realidade... Não sei dizer ao certo se é a presença da ausência ou a ausência da presença, ou talvez seja, simplesmente, saudade... Lá fora tudo respirava perfume e os braços do vento, carregando o pólen da vida, cantavam nos ramos do arvoredo delicada canção... Saí a correr, tentando fugir da furna escura dos meus padecimentos. A presença invisível da bem-amada fazia-me arder em febre de ansiedade, enquanto os pés ligeiros das horas corriam à frente impondo-me fadiga e desconforto...

Embriagado pela saudade, meu ser ansiava pela paz... Em vão tentei exaurir as forças para livrar-me da dor, mas não conseguia libertar-me do punhal da melancolia cravado no coração, e da lembrança da sua ausência... Quando, enfim, a tarde se escondeu ao longe das montanhas, outra vez tombei em mim mesmo, preso em uma inusitada situação e só... Naquele momento desejei que o Todo Poderoso me dominasse com os fortes recursos da soberana misericórdia, livrando-me de mim mesmo... Parecia que não mais suportaria o espinho da saudade cravado em meu peito, já dolorido e exausto... A ausência da sua presença queimava as fibras mais sutis da minha alma. E a presença da sua ausência me feria o coração dilacerado e só... A noite devorou o dia, e, ao escancarar a sua boca negra, mostrou a primeira estrela engastada no manto escuro, vencendo as sombras...

Minutos depois, milhares de astros brilhantes contemplaram a sua beleza... Só então, "solitário" e meditativo, compreendi como a minha canção de dor chegará ao ouvidos do Criador, que me respondeu em vibrações fulgurantes de esperança à distância... Só então compreendi que não há escuridão que resista a um simples raio de luz (Seus sorrisos), e decidi acender a chama da esperança em minha alma. E só então, pude ouvir o sublime Cancioneiro do silêncio e Suas melodias repletas de sons e paz, convidando-me a confiar em seu infinito poder e entregar-me aos braços suaves da saudade... Se o manto escuro da saudade pesa sobre os seus ombros, ilumine-o com as pérolas que são seus sinceros sorrisos em favor do bem-amado que "partira". Preencha a ausência da presença com a lembrança dos momentos compartilhados nas horas alegres, e confie no reencontro feliz.

Por: Wdson Borges

21 Novembro de 2006.