(IN) CONGRUÊNCIAS

À noite, do outro
lado do mundo, alguém amanhece
a tocar, em seu velho piano,
o Prelúdio de Bath;

que vem quanticamente
a flutuar pelo caminho, passando por planícies,
montes, mares;

e pelos povoados e vielas
de todas as gentes – que não a ouvem –
até adentrar a solidão
de minha casa.

Da janela,
de frente para a noite fora,
ouço também ao jornal sobre um ataque
sobre Jerusalém, a cidade
que dizem sagrada;

um pouco além,
entrevistam ilustres doutores,
presidentes, autoridades religiosas e especialistas
que falam sobre a necessidade
de resolverem tal conflito,

sem, no entanto,
darem suas contribuições práticas
para tal;

mais um pouco,
segue o bestiário a transmitir sobre a fome
de nossos semelhantes no continente
africano

e sobre desgraças de todo tipo,
com sensacionalismos torpes, que seriam
de nos aterrorizar, caso não estivéssemos com os cus
plantados nos sofás das falsas seguranças
de nossos lares.

E o que tem a ver
o piano que toca do outro lado do mundo
com os descaminhos que nos mostram nas TVs,
nos jornais escritos e até nas pregações
às sinagogas e igrejas, deveras
devem se perguntar:

nada mais que
a grande necessidade de o ser humano
fabricar abismos vermelhos,
brancos ou pretos;

preterindo as coisas mais
belas e sublimidades – por imanente força do ego –
e deixando-as condenadas quase que somente
aos limites de quando regozijam faustos
lumes de si mesmos.
Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent)
Enviado por Péricles Alves de Oliveira (Thor Menkent) em 10/02/2016
Reeditado em 11/02/2016
Código do texto: T5539618
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