Banho de realidade
E naquela tarde de sol, poesia tomou um banho de realidade,
Foi esfregada com bucha in natura, de sementes ainda verdes;
A toalha que secou as letras, não tinha amaciante, asperidade,
Machucava, raspava a cada linha, doía, mas aguentava firme.
Era preciso, sabia; mas tinha um receio que tudo se perdesse,
Simplesmente escorresse pelo ralo, mas pensou "um pouco só";
Que mal faria, guardaria quimeras, no País das Maravilhas, prece,
Essa, que prontamente atenderia, um creme, um pouco de pó...
Uma maquiagem leve, uns acessórios básicos, uma roupa fresca,
Depois desse banho, e tudo ficaria perfeito, mas havia o choque;
E esse era o que mais temia, a realidade seria tanto, compressa,
Não adiantaria, mas aguardaria, agora era o banho, depois .doc.
Salvaria um resto de ilusão, pouparia a imaginação, e seria feliz,
Comporia com alguns palavrões, nada de falsidades e hipocrisias;
Sentenças verdadeiras, pronomes, verbos, como nunca se quis...
Assim seria, decidiu que voaria só de dia, asas podadas da poesia.